terça-feira, 20 de maio de 2025

Ainda sobre silêncios... mas também sobre a leveza dos recomeços.

     Nestes dias, em que se tem muito a dizer mas som algum consegue ultrapassar as cordas vocais e, ao invés disto, sobram nós na garganta e um peso de toneladas nas costas; eu não sei ao certo se sou prisioneira do silêncio ou se sou eu quem o aprisiona...

    Me acostumei tanto a não ter voz que o unico meio de me fazer ouvida era enfileirar colunas de palavras para que parecesse que elas eram algo pensado e jamais vivido internamente. Algo em mim sempre relutou em silenciar, mesmo quando a voz não saia; mesmo quando eu me fazia aprisionada ou quando eu prendia o silêncio.

    Do que escorreu pelos meus dedos, em minhas rimas, em minha luta mais real, em minha solidão mais profunda só eu sei! E embora hoje eu dispense holofotes e palcos, algo que eu jamais vou dispensar é a permissão que me dou de me reescrever e de me reiniciar quantas vezes meu coração pedir.

    Esta pequena prosa foi escrita em 2011, entretanto, ela sempre será atual em minha narrativa interna.

    Vamos então ao que interessa? Ao texto objeto desta minha divagação introdutória, querido leitor? rsrs.



Sobre heróis, vaidades, verdades e vôos...


    E, de repente, apagaram-se os holofotes... e as cortinas, já foram fechadas! Os livros foram retirados das prateleiras, não restou nenhum conto de fadas. E já não tem mais brigadeiros nas mesas... nem língua de sogra a ser soprada restou. 

    Até mesmo os meus heróis me deixaram!

    Restou, aqui no coração, aquela mesma angustia infantil que eu sempre senti no final das festas. Restou aqui o resquício de algo por mim desconhecido (ou algo que eu apenas não quis conhecer por muitos e muitos anos). E nada mais é certeza, como nunca foi antes, eu apenas me enganava enquanto lia todos aqueles livros. Mas agora não posso mais me enganar! Agora eu sei que a certeza é um grande disfarce desta minha razão medíocre.

    Preciso retomar a minha luz... preciso urgentemente retomar as penas loucas das minhas dádivas! e novamente ter coragem de me lançar como um pássaro ao desconhecido incerto; desconhecido este que eu apreciava tanto, mas que no momento que se constatou incerto deixou de ser leve e se tornou um fardo que fui incapaz de carregar. 

   É que de repente (ou talvez não tenha sido assim, tão de repente - eu apenas não me dei conta que o relógio girava e o tempo ia, aos poucos, domando a esperança em meus olhos), sem que eu me desse conta, fui domando todas as minhas loucuras, e a vida precisa de um punhado de inrazões pra continuar a ser fértil. 

    Serei eu novamente capaz de me lançar convicta ao acaso mesmo o sabendo incerto? e deixar de lado este descaso de mim mesma? Serei eu capaz de sobreviver à morte impiedosa dos meus heróis e da minha tola certeza? Serei capaz de fazer em mim mesma, muralhas seguras de novos sonhos, tão únicos, tão meus e tão intensos a começarem finalmente a me tornar livre e viva? 

    Tenho que admitir, não é a incerteza que incomoda é a liberdade que assusta!

    E eu apenas não me dei conta do que vim me tornando diante do espelho, e todos os fantasmas da minha covardia agora gritam para serem libertados. É estranho perceber todas as ilusões de nós mesmos, e com isso nos tornar livres da nossa própria verdade. E ainda haverá maior liberdade! 

    Agora, todos os cacos da minha fantasia precisam ser derretidos, esmagados e rejuntados para dar forma a uma esperança ainda maior do que a que existiu quando coloquei todas as minhas expectativas nos heróis que eu havia criado; naqueles personagens que eu havia fixado nas pessoas, enquanto perdia de fato, todos os meus humanos.

   

     Que eu tenha convicta coragem de me lançar ao caos do meu próprio desENCONTRO. 

    É preciso viver os finais, e entender que finais são apenas um início, nesta estória sem verdades, sempre inventada por nós! 

    Muitas vezes mais destruiremos as nossas próprias verdades e todo final será sempre um novo começo.

...as penas me incomodam, pois as minhas asas clamam por sair das costas! Quando as minhas penas atravessarem, sangrando, a minha cútis que a dor me deixe firme para finalmente voar! E que eu seja dada à liberdade como quem entende que são as loucuras que nos deixam continuar respirando.


- por Luana Lagreca, Petrópolis, 2011. Revisado em 2025.

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Sobre uma tarde e alguns pequeninos sonhos...

 Nestes dias comuns, 

onde a luz desce difusa pela escada caracol do meu quarto; 

onde tão confusa e desnorteada me acho, 

e me vêm um cheiro de saudade apertando o peito... 

Qualquer coisa em mim tem um jeito que já não é assim tão comum. 

Eu queria uma dose cavalar do seu sorriso, 

que perturba meus sonhos mais secretos. 

Eu queria o rito, o grito, o gesto 

a tornar real a minha mais louca fantasia. 


Aquela 

onde nada além de você 

e uma tarde intera de nos dois poderia existir. 



- por Luana Lagreca, Petrópolis, 2025.

domingo, 11 de maio de 2025

Sem muitas explicações... mas enfim entregue aos meus silêncios.

    Quando todo o meu caos interno se faz visível diante do meu espelho, e aquela fagulha mais insana e mais sagrada - aquela que me torna eu mesma, estiver indomável; é chegado o tempo de começar a pressionar novamente, e novamente com toda minha coragem e minha sinceridade mais imperdoável, os dedos sobre este meu teclado abrigo, o amigo mais leal e honesto de toda uma vida!

    Mas, meus caros, vos digo que algo em mim mudou profundamente! Vim de tantos rompimentos (alguns até comigo mesma) que as minhas aspirações futuras são hoje muito mais simples, apesar de muito mais profundas e impiedosas.

    Não esperem mais muita lógica ou explicação nas minhas coisas. Sou mesmo sem sentido e até cheia de contradição algumas muitas vezes. Me libertei finalmente desta necessidade tão mediocre de viver me explicando, me curei da ilusão de ser entendida. Ou será que é exercício da poesia uma força de explicação (ou de tentativa dela) por só própria? A poesia se faz como uma tentativa de buscar compreensão? De se buscar pra quem? Pra quê?

    Sempre vou me questionar!

    Só sei (e sei porque sinto) que hoje eu me faço assim, sem muita eira nem beira, desdizendo para dizer e tanto quanto for preciso, tudo ditado e dito, pelo leme tão impreciso do meu coração maluco. 

    De uma coisa só faço total questão, de me deixar acordar e de me manter bem acordada, nestes silêncios tão longínquos, onde toda a paz é conturbada por este inferno de pensamentos que rondam a minha cabeça sem piedade. E por vezes, rondam em madrugadas infindas, quando o meu relógio de parede insiste em costurar, aos berros, a noite fria que é a sina mais pulgente de todo poeta.

    Não temo mais o solidão, o silêncio e as madrugadas.

   E não sei dizer se vim pra ficar e até onde vim! Mas digo: que toda vez que estiver, estarei aqui, interamente aqui como nunca desejei e fui capaz antes de estar!


- por Luana Lagreca, Petrópolis, 2025.